Monday, October 01, 2007

O Ilusionista

Para quem tem algum conhecimento sobre a história da doutrina espírita, é complicado falar sobre o filme "O Ilusionista". Para começar, o trailer que eu assisti "vendia" um filme de ação, com cenas de efeitos incríveis. Não poderia ser nada mais longe disso. O filme é um suspense, sobre o qual não consigo ainda ter uma impressão definitiva; digamos que tem altos e baixos. Mas eu gostaria de falar não sobre ação, efeitos especiais, ou suspense, e sim sobre a questão do retrato do espiritualismo que é dado pelo filme.

Atenção: se você não assistiu ainda, fique o aviso de que meu comentário abaixo revela um bocado da história do filme. Se você é do tipo que não gosta de estragar surpresa não leia agora, assista e volte para ler depois.

Feito o aviso, vamos lá. A grande "ilusão" a que o filme remete é justamente a questão: poderia o mágico (ou "ilusionista") estar invocando os mortos? ou estaria ele utilizando um truque elaborado para se vingar e depois viver em paz com sua amada?

Não me lembro de ter visto no filme nenhuma referência ao ano exato em que a história se passa, mas tudo indica que é do meio para o fim do século XIX. Nessa mesma época a Europa vivia a febre das mesas girantes, das invocações de espíritos, e mais tarde, das experiências públicas de materialização. O filme não menciona esses fatos diretamente, e nem dá referências que possam ajudar as pessoas que não sabem desse cenário histórico a ligar a importância dos fatos. Esse já é por si só um ponto crítico.

Outra crítica importante é que o filme não dá espaço para discutir forma séria a possibilidade da invocação espiritual. A questão é tratada apenas como pano de fundo para o suspense. Mas o pior ponto é o final. Depois de desenvolver uma história fantástica, finamente equilibrada entre a possibilidade de que a invocação dos espíritos seja real (e que a amada do nosso herói esteja realmente morta), e a possibilidade de que o ilusionista esteja apenas exibindo um truque, o final praticamente "entrega" a história. Seria melhor deixar o espectador na dúvida, para que ele mesmo pudesse construir sua própria explicação.

A impressão que fica é que o filme originalmente foi escrito para ter um final ambíguo, mas a tendência hollywoodiana por finais felizes falou mais alto. É uma pena, pois poderíamos ter um excepcional filme sobre a época em que a Doutrina Espírita foi codificada. Ficamos apenas com os efeitos especiais e uma história mal acabada, o que é uma pena, pois há momentos realmente belos no filme. Talvez uma nova edição, um "director's cut" possa mostrar o verdadeiro final no futuro...